POR FORA
LUIS FERNANDO VERISSIMO
Senador, o senhor sabe por que nós estamos reunidos aqui. Lideranças de todos os partidos com representação no Congresso, membros do Judiciário, líderes de todas as denominações religiosas do País, chefes militares, empresários – enfim, a Nação.
Como o
senhor também já sabe, fizemos um plebiscito interno no Congresso para escolher
o mais íntegro e impoluto entre nós para resgatar a reputação dos políticos,
esta classe tão desmoralizada e tão desacreditada, principalmente depois dos
últimos escândalos. A escolha foi fácil, foi quase unânime, pois nenhum outro
político brasileiro tem a sua reputação de seriedade e honestidade.
O que lhe
oferecemos é uma espécie de ditadura branca. O senhor nos governaria, por um
período a ser determinado, até que a classe política recuperasse seu bom nome e
a população voltasse a confiar nos seus representantes. As instituições da
República continuariam funcionando, não haveria censura ou qualquer outro
resquício de uma ditadura real, mas o senhor teria a palavra final – sobre
tudo, da política econômica à escalação da seleção.
Sua
honradez é notória, mas mesmo assim precisamos sabatiná-lo, antes de nomeá-lo.
Uma mera formalidade.
– Pois
não.
– O
senhor tem conta não declarada na Suíça ou em algum paraíso fiscal?
– Não.
– E
trust?
– Nem sei
o que é isso.
– O
senhor foi delatado ou está sendo investigado pela Lava Jato?
– Não.
– E sua
vida amorosa? Existiu algum caso que possa embaraçá-lo, se vier à tona durante
seu mandato?
– Estou
casado com a Josefa há 40 anos e nunca olhei para outra mulher.
– Acho
que temos o homem ideal para governar o País. Não precisaremos de eleições. O
País está cansado de tanta falcatrua e apoiará sua eleição por aclamação. O
senhor aceita?
– Aceito.
– Seu
salário, por sinal, será o de presidente da República.
– Epa.
Não tem algum por fora?
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