NAS
CONVULSÕES
DO SÉCULO XX
Pelo Espírito Emmanuel.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Sentinelas da Luz.
Lição nº 08. Página 46.
Não bastaram as torrentes do
infortúnio que as grandes guerras do século lançaram sobre os vales do mundo.
Acordando, estremunhada, de
horrível pesadelo, que perdurou por mais de dois mil dias, e embora os lares
desertos, os campos talados, as arcas empobrecidas e as prisões repletas,
arregimenta-se a coletividade planetária para novos embates de cegueira e
destruição.
Amontoam-se pesadas nuvens nos
céus do Oriente e do Ocidente...
Quem impedirá a tempestade de
suor e lágrimas?!...
Época de profundas aflições,
dir-se-ia encontrarmos no século XX o fruto de sangue de dezesseis séculos de
menosprezo à luz espiritual.
Desde Constantino, o
Cristianismo puro sofre a intromissão egoística de humanos interesses.
Sempre a ofensiva das trevas
contra a luz, as arremetidas do mal contra o bem.
É inegável que as instituições
terrenas, não obstante constrangidas, revelam apreciáveis características de
progresso.
Regressando ao cenário atual,
Aristóteles, o oráculo de filósofos e teólogos, não mais aplaudiria o
cativeiro, declarando o escravo "propriedade viva"; Inácio de
Loyola, o santo, a pretexto de preservar a fé, não mobilizaria os tribunais
da Inquisição.
A influência do Cristianismo
determinou enormes transformações na curul administrativa. Entretanto, a
dignificação da personalidade permanece apenas esboçada.
Os aviltamentos do ódio
campeiam em todos os climas.
Arraiga-se a injustiça, com a
máscara da legalidade, nas organizações dos países mais nobres.
Há desvarios do poder em toda
parte.
Baraço e cutelo,
metamorfoseados nos mais estranhos aparelhos de tortura e de morte, são ainda
recursos da toga.
A desconfiança e a discórdia
regem as relações internacionais.
Racismo tirânico perturba
povos avançados.
Conflitos ideológicos
tremendos aguçam o raciocínio a soldo da ciência perversa.
E, coroando o sombrio
edifício, instalou-se a guerra entre os homens, à maneira de sorvedouro
infernal.
O conceito de civilização
flutua ao sabor dos grupos dominantes.
Para alguns, repousa na
economia ou na força; para outros, no direito exclusivista ou na liberdade de
praticar o mal. E, do que podemos presumir, não está próxima a equação do
inquietante problema.
Há sempre volumosos
contingentes para ganhar a demanda, mas raros homens se preocupam em ganhar a
harmonia.
O domicílio dos homens sofrerá
terríveis brechas, até que a razão se equilibre nas diretrizes do mundo.
A inteligência bestial
combaterá ainda a sabedoria divina por longo tempo.
Não somos, pois, estranhos à
tormenta de lágrimas, que cobrirá a fronte dos continentes em dolorosos
quadros apocalípticos.
Constituímos o fruto do que
fomos, colhemos na pauta da semeadura.
Nisto não vai estima às
predições de Cassandra, nem barateamento às profecias.
Buscando o Cristo nos templos
exteriores e expulsando-O dos corações, fôra temeridade esperá-lo por
salvador gratuito à última hora.
Eis porque, à frente dos
atritos formidandos dos dias que passam, apelamos para os seguidores do
Evangelho, a fim de que se unam no culto à religião interior.
A consciência identificada com
o Mestre é refúgio indispensável.
Se as doutrinas da força
somente representam a decadência das nações, por libertarem o vandalismo,
restituindo o homem à animalidade primária, é justo reconhecer que a
democracia sem orientação cristã não pode conduzir-nos à concórdia desejada.
Realmente, a Revolução
Francesa, que inaugurou grandes movimentos libertários do Planeta,
filiava-se, no fundo, às plataformas elevadas. Objetivava o término das
administrações inconscientes, o fim da ociosidade consagrada, a extinção de
prerrogativas delituosas, o reajustamento do governo e do sacerdócio, em nome
da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Muitos dos patrocinadores da
renovação acreditaram-se movidos pelo messianismo evangélico; no entanto,
esqueceram-se de que Jesus advogara a liberdade de obedecer a Deus contra o
mal, a igualdade dos deveres para que o mérito marcasse a responsabilidade, e
a fraternidade verdadeira, dentro da qual há mais alegria em dar que em
receber.
Conspurcada nos fundamentos, a
Revolução, desbordando nos instintos sanguinários, em breve degenerou-se nas
lutas napoleônicas, estabelecendo, no mundo, as guerras odiosas de povo a
povo.
Desde então, a Terra, em sua
geografia política, é uma colméia desesperada, que só a Cristianização da
democracia poderá reajustar.
O angustioso enigma prende-se
à ordem espiritual.
Impraticável o erguimento do
edifício sem bases. Impossível a organização de instituições respeitáveis sem
sentimentos humanos dignificados.
O homem elevar-se-á com o
Cristo para levantar a política até o plano do equilíbrio divino ou a
política sem Cristo, seja qual for a bandeira a que se acolhe, precipitará o
homem no caos. Este - o dilema da atualidade, em que a ventania da destruição
assopra de novo...
E, não obstante edificados na
certeza de que tudo coopera em benefício dos que amam a Deus, das claridades
de além-túmulo, repetimos para os companheiros do Evangelho:
- Irmãos, entrelaçai os braços
e uni corações, em torno do Caminho, da Verdade e da Vida!...
Tormentas de dor rondam os
castelos da vaidade humana e gênios escuros do morticínio acercam-se das
moradias sem alicerces.
Os monstros que devoraram as
civilizações dos persas e dos assírios, dos egípcios e dos gregos, dos
romanos e dos fenícios espreitam a grandeza fantasiosa dos vossos palácios de
ilusão!...
Os oráculos que prognosticaram
queda e ruína em Persépolis e Babilônia, Tebas e Atenas, Roma e Cartago
pronunciam angustiados vaticínios em vossas cidades poderosas...
Polvos mortíferos do ódio e da
ambição desregrada multiplicam-se no oxigênio terrestre, predizendo misérias
e desolação.
Trazem a fome e a peste em
novos aspectos, desorganizando-vos a vida e desintegrando-vos os celeiros...
Todos vivemos tempos
dramáticos de prece, expectação e vigília...
E, enquanto o aquilão da
impiedade ruge destruidor, reunamo-nos na Jerusalém do Íntimo Santuário!...
Sigamos o Senhor na via
dolorosa, como quem sabe que Ele prossegue à nossa frente, desvelando-nos o
caminho da ressurreição eterna.
Vejamo-Lo, heróico e divino,
em seu apostolado de sublime renúncia, vergado à cruz de nossas fraquezas
milenárias...
É natural que nossos olhos
estejam orvalhados de pranto e que o assombro nos domine os corações.
Todavia, atentos à Justiça
Indefectível que nos preside aos destinos, ouçamo-Lo a dirigir-se às mulheres
piedosas que se lhe ajoelhavam aos pés, na cidade santa: - "Filhas de
Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos,
porque virão dias em que se dirá: - Bem aventurados os ventres que não
geraram e os peitos que não amamentaram! Clamareis então para os montes: -
Caí sobre nós! E rogareis aos outeiros: - Cobri-nos! Porque se ao madeiro
verde fazem isto, que se não fará ao lenho seco?"
"Ninguém sabe quem teria sido o samaritano da parábola:
se um homem de elevada cultura espiritual ou se um analfabeto no conhecimento
da vida; se um representante da autoridade ou se um homem a esconder-se das
próprias culpas. Entretanto, porque se compadeceu e auxiliou, porque agiu e
serviu, em favor do próximo, conseguiu identificar-se com o Trabalho dos
Anjos". (Emmanuel / Chico Xavier - Livro: Amanhece)
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