terça-feira, 30 de setembro de 2014

AMIGO

Acho que tenho trinta e seis anos.
Sou morador de rua.
Mas nem sempre foi assim.
Já vivi em muitas casas.
Mas nenhuma delas conseguiu ser um lar.
Hoje vivo completamente solitário.
Já convivi com diversas pessoas do sexo masculino.
Mas nenhuma delas pude chamar de pai.
Convivi com várias mulheres, de todas as idades.
Mas a nenhuma delas me foi permitido chamar de mãe.
Não sei ler nem escrever.
Conheço as palavras, por ouvir as pessoas falarem.
Aprendi a palavra emoção, quando vi o rosto de alguém que chorava.
Um dia ouvi alguém falando carinho, mas não sei direito o que é.
Certo dia, concheci alguém que deve ser o que chamam de companheiro.
Ele me falava com os olhos e facilmente me entendia.
Roubava lençóis em varais quando me via tremendo nas noites de frio.
Dividia comigo toda comida que ganhava, para aplacar minha fome.
Ficava feliz ao me ver sorrindo e arredio ao me ver entristecido.
Numa dessas madrugadas, ele não veio deitar-se ao meu lado.
Estava quieto em seu canto, com os olhos completamente cerrados.
Toquei seu corpo bem frio e não senti qualquer reação.
Sua pelagem viçosa, agora estava opaca e sem brilho.
Ele não mais me olhava, não uivava, não se comunicava comigo.
Neste dia, entendi o verdadeiro significado das palavras PERDER e AMIGO.
Pela primeira e última vez na vida eu chorei.
(Mauricinho)

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